À medida que fui acumulando uma colecção de gravatas, e usando-as no dia-a-dia, fui notando que o nó da gravata ficava sempre com um aspecto diferente com gravatas diferentes, ainda que usasse a mesma camisa e as atasse com o mesmo método. Hoje vou vos mostrar este fenómeno e explicar as suas causas.
A minha colecção de gravatas
A minha coleção: Throttleman vs René Chagal
Para esta demonstração, escolhi duas gravatas diferentes.
Do lado esquerdo, temos uma gravata da Throttleman, uma marca portuguesa presente em centros comerciais.
Do lado direito, temos uma de René Chagal, uma marca que já não existe. Nem no Styleforum consegui obter muita informação, com a excepção de terem sido vendidas nos anos 90 bem como terem um estilo parecido com a Hermés. Uma pesquisa mais aprofundada (e na parte française da internet) revelou alguns anúncios em lojas vintage como esta.
Esquerda: Throttleman. Direita: René Chagal
Diferenças de qualidade
Em termos de qualidade, consigo notar uma grande diferença no tecido só pelo toque: a da René Chagal tem uma “mão” muito mais acetinada, logo deduzo que seja uma gravata de seda, enquanto a da Throttleman tem uma mão muito menos luxuosa.
O impacto do tecido no nó: demonstração prática
Escolhi o nó chamado four-in-hand para demonstrar as diferenças visuais no nó causadas por gravatas diferentes. É um nó assimétrico e fácil de atar, que funciona com muitas camisas diferentes, em contraste com o nó windsor, do qual não sou fã visto que é muito mais largo e menos refinado.
Como podem ver pelas imagens, a gravata da Throttleman ficou com um nó mais grosso do que a da René Chagal. Isto acontece por duas razões:
A grossura do tecido da gravata é maior na da Throttleman.
A forma como a gravata é dobrada no processo de fabricação (algo a explorar em artigos futuros).
Gravata da René Chagal atada com o nó four-in-hand
Gravata da Throttleman atada com o nó four-in-hand
Como escolher o nó ideal para cada gravata
A escolha do nó não deve ser aleatória, por isso essencial ter pelo menos dois nós diferentes no vosso repertório:
Um nó mais grosso para colarinhos mais abertos e gravatas mais finas.
Um nó mais fino para colarinhos mais fechados e gravatas mais espessas.
Essa flexibilidade faz com que o nó fique sempre proporcional ao colarinho e ao tecido, por conseguinte mantendo um visual limpo e elegante.
Conclusão: conhece os teus nós
Dominar o uso de gravatas não passa só por saber atar um nó. Assim sendo, precisam de escolher o nó certo para a gravata certa, com o colarinho certo e saber conjugar tudo com o formato natural da vossa cara. Pequenas diferenças nos materiais e construção da gravata têm um grande impacto no resultado final.
No futuro, pretendo escrever mais sobre o que influencia o volume e a estrutura do nó desde o entretelamento até ao corte da gravata.
A maioria dos homens usa cintos com os seus fatos, mas sabiam que há uma alternativa? Suspensórios (braces para os Inglêses ou suspenders para os Americanos) são uma escolha clássica e bonita para qualquer homem, e têm muitas vantagens!
A maioria das fontes online afirma que os suspensórios foram uma evolução das bretelles, um conjunto de tiras que ajudava a segurar as calças no século XVIII.
Com o crescimento de popularidade de calças no século XIX, Albert Thurston criou os primeiros suspensórios ajustáveis em 1820, que se espalharam por toda a sociedade. A marca ainda existe hoje e continua activa.
A Primeira e a Segunda Guerra Mundial ajudaram a tornar os cintos mais populares: baixar a altura do gancho era a forma mais fácil de poupar tecido das calças a fim de o racionar, o que fez com que não fosse preciso depender em suspensórios para segurar as calças na cinta.
Hoje em dia a maioria dos homens prefer cintos para o dia a dia.
Os suspensórios podem ser feitos de um material elástico ou de tecido (que não estica).
Eu aconselho tecido como material para suspensórios. Deste modo, as calças se mantêm-se sempre no mesmo sítio, visto que este material não estica, ao contário de elástico que o faz quando guardamos coisas nos bolsos.
Sistema de fixação
Podem ter molas para agarrar às calças, ou ter peças de cabedal/tecido para se afixarem a botões cosidos dentro nas calças.
Eu aconselho os de botões, porque não estragam o tecido das calças, agarram sempre as calças enquanto os de pinças às vezes soltavam-se das minhas e porque suspendem as calças noutro ponto de contacto mais longe da prega/vinco do meio, o que ajuda a manter a cintura das calças bonita se estiverem ligeiramente folgadas.
Confesso que associo os suspensórios de molas a um estilo mais casual com o qual me identifico menos, em contraste com os de botões.
Suspensórios são considerados roupa interior, por isso não se devem ver. Isto significa que só os devem usar com uma camada a tapá-los, como um casaco ou uma camisola. Isto torna-os menos versáteis no verão, quando não temos tanta tendência a usar agasalhos e queremos estar só de camisa às vezes.
Devem evitar suspensórios demasiado finos, para não parecerem hipsters, e evitar suspensórios de molas.
Também não devem usar cintos e suspensórios ao mesmo tempo, excepto os trolhas que usam suspensórios para segurar as calças e um cinto para segurar as ferramentas.
Em termos de côr das faixas, visto que não se vão ver facilmente, podem ser bastante arrojados e demonstrar a vossa personalidade com vários padrões e cores bonitas. É mesmo uma escolha pessoal.
Finalmente, é importante tentar condizer as côres do cabedal com as cores dos sapatos. Como sou preguiçoso, prefiro que sejam inteiramente brancos para os poder usar com qualquer par de sapatos.
A personagem Terry Jeffords da série Brooklyn Nine-Nine. Apesar de usar suspensórios suficientemente largos, está a quebrar duas das regras. Copyright: Brooklyn 99 Fandom
Suspensórios: essenciais para trajes formais
Ao contrário de ocasiões do dia-a-dia, suspensórios são obrigatórios quando se usa roupa formal: smoking, fraque ou casaca. Estes três códigos de vestir são sempre usados com uma peça de roupa a cobrir a cinta: uma faixa para smoking e coletes para os três.
Cintos ocupam demasiado espaço na cintura tornando essa zona menos elegante, por isso não são apropriados.
Os suspensórios mais formais de todos são inteiramente brancos, feitos com tecido moiré (ainda não conheço a tradução em Português). São brancos para condizerem com a camisa e serem discretos.
Há várias opções: estes da Albert Thurston (opção mais barata aqui). Igualmente, acredito que a Rosa & Teixeira no Porto tem suspensórios todos brancos em stock.
Daniel Craig protagonizando James Bond no filme Casino Royale. Só lhe falta estar a usar o casaco do smoking para estar impecável. Copyright: Sony
Tamanhos
A maioria dos suspensórios vêm em tamanhos únicos mas é importante verificar duas medidas importantes.
Em primeiro lugar, a peça de cabedal onde as 3 faixas de tecido se juntam deve ficar entre as vossas omoplatas, senão as faixas vão deslizar pelos vossos ombros, o que torna os suspensórios desconfortáveis.
Posicionamento correcto do cabedal nas homoplatas. copyright: Bespoke Unit O artigo neste link é bastante bom.
Em segundo lugar, no seu livro “Dressing the Man: Mastering the Art of Permanent Fashion”, Alan Flusser recomenda que as fivelas de metal fiquem localizadas o mais perto da cinta possível, na zona abaixo das nossas costelas, de forma a que se possam ficar escondidos se usarmos coletes ou faixas formais.
Na minha opinião, é muito mais importante o cabedal de trás ficar no sítio correcto do que prestar atenção às fivelas, porque pouca gente as vai ver e não impactam o conforto, por isso não recomendo que fiquem obcecados com isto.
Antigamente muitos alfaiates da Saville Row faziam os suspensórios à medida, por isso acredito que estas medidas se possam ajustar numa costureira ou alfaiate hoje em dia. Deve ser mais fácil ajustar se forem feitos de tecido e não de elástico, o que é, aliás, outra vantagem do primeiro tipo de suspensórios.
Posicionamento correcto das «fivelas» de metal à frente. Podem estar situadas uns centímetros mais acima.
Vantagens e desvantagens dos suspensórios
A minha opinião
Os suspensórios têm várias vantagens em comparação com cintos ou até calças com fivelas no cinto. Mas também não são perfeitos. Aqui estão os prós e contras de usar suspensórios.
As vantagens de usar suspensórios
Mais conforto e liberdade na cintura: permitem usar calças com cinturas um pouco mais largas sem afetar o aspeto geral.
Práticos para ir à casa de banho (necessidades líquidas): As calças ficam penduradas dos ombros, logo basta abrir a carcela.
Adaptam-se a flutuações de peso: Não se têm de preocupar em apertar os vossos cintos, por isso funcionam mesmo que mudem de peso.
Permitem usar as calças na nossa cinta: isto é ainda mais importante para homens com uma barriga grande, porque calças de cintura subida e larga escondem a barriga, enquanto a barriga é realçada com um cinto.
Têm de ser usados com uma camada por cima: sendo considerados roupa interior numa perspectiva clássica, não devem ser vistos.
Calças com passadores + suspensórios é um faux pas: idealmente, as calças não devem ter passadores quando usadas com suspensórios. Isso limita a versatilidade dessas calças.
Exigem costura: é preciso coser 3 pares botões no interior das calças com 6cm de distância entre os botões de cada par para se usar suspensórios.
Menos práticos para ir à casa de banho (necessidades sólidas): temos de tirar todas as camadas em cima dos suspensórios para eles poderem sair dos ombros. É particularmente maçoso no Inverno, quando usamos mais camadas.
Demoram mais a vestir e tirar: tempo de manhã quando nos estamos a arranjar é um bem escasso e precioso que suspensórios consomem.
Onde comprar suspensórios em Portugal?
A maioria das lojas de fatos costuma ter algumas opções de suspensórios, por isso opções pronto-a-vestir não são difíceis de encontrar.
Uma loja que gosto muito é a Carmesim Bow Tie em Lisboa, uma vez que vende muitos acessórios clássicos. Vende e produz suspensórios tanto prontos-a-vestir quanto à medida e personalizáveis. Alguns são demasiado arrojados para mim, mas há muitos modelos mais próprios para estilos mais conservadores como o meu. Já fui lá pessoalmente e a dona é muito simpática.
Felizmente, há muitas opções em segunda-mão, na Vinted por exemplo, por isso não requerem muito investimento inicial.
Conclusão
Em conclusão, sou um grande apreciador de suspensórios e aconselho todos a experimentar, mesmo com as suas desvantagens. Tenham cuidado, porque podem ficar viciados e não voltar atrás.
A maioria das pessoas não sabe que a primeira imagem não é de um fato. Nem a segunda. Uma mostra um blazer (um tipo de casaco desportivo) combinado com calças de sarja, também conhecidos como chinos em Inglês. A outra mostra um smoking, ou tuxedo, usado em ambientes ainda mais formais durante a noite. Acertaram à primeira?
Definição de um fato
Um fato é um conjunto de roupa que consiste num casaco, calças e opcionalmente um colete, todos fabricados com a mesma fazenda. Muitas profissões usam um fato (por exemplo o “fato-macaco” para profissões manuais) mas esta palavra usa-se coloquialmente para nos referirmos a fatos clássicos, usados geralmente em ambientes de escritório.
Este “código de vestir” tornou-se popular depois da 1ª Guerra Mundial, em todas as classes sociais. Tem mantido a sua posição na hierarquia de formalidade durante o último século, mesmo que a tendência de nos vestimos de forma cada vez mais casual tenha feito com que a maioria da população o veja como o cúmulo da formalidade. Até começou a ser usado em eventos formais, como casamentos, substituindo o fraque e a casaca – mesmo que, na minha opinião, sejam momentos especiais que exigem um traje especial.
Como se deve usar um fato?
Fatos devem ser usados com uma camisa, uma gravata, meias e sapatos. Os senhores com classe também complementam o traje com um lenço de bolso dentro da pestana, um pin de lapela ou um boutonnière, isto é, uma flor que se usa na casa da lapela.
Porquê usar este traje?
Esta é a peça de roupa mais elegante que se pode usar no dia-a-dia e nos contextos em que geralmente nos encontramos. Um fato cria contraste perto da cara e das mãos, enquanto limita o contraste nas outras partes do corpo, o que traz o olhar das pessoas para onde queremos. Também usa várias formas geométricas triangulares para “apontar” para a nossa cara, com o colarinho da camisa, a gola, as lapelas e a gravata.
A minha missão é aprender o máximo que posso sobre roupa clássica masculina, para que possamos encher este nosso mundo de beleza. Vamos começar.