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Uma visita à Chapelaria Azevedo Rua: a tradição dos chapéus em Lisboa

Estive na cidade do sol durante um fim-de-semana de Abril e tive de ir à Chapelaria Azevedo Rua, em Lisboa, ver a sua magnífica coleção de chapéus.

Para quê usar óculos de sol, quando podemos usar chapéus?

Esta visita foi suscitada pela chegada da melhor estação do ano, a Primavera. Com ela, veio o sol abrasador Olisipense. Não sei quanto aos leitores, mas óculos de sol sempre me pareceram uma solução incompleta para o problema de ter o sol nos olhos: para quê tentar limitar a força do sol com óculos, quando podemos bloquear o sol de chegar aos nossos olhos com um chapéu? 

Montra da Chapelaria Azevedo Rua em Lisboa.

História da Chapelaria Azevedo Rua

A Chapelaria Azevedo Rua (website aqui) foi fundada em 1886 por Aquino Azevedo Rua. Desde então, tem sido uma referência na previamente intitulada “Praça dos Chapeleiros” (na Praça de D. Pedro IV, que hoje chamamos “Rossio”). É agora gerida pelo Sr. Dr. Pedro Fonseca, da 5ª geração da família. É composta por duas lojas, separadas por outra loja distinta, o que é bastante peculiar. Ambas as lojas são lindíssimas, com os tetos brancos com padrões engessados, paredes cobertas por armários de madeira e chãos em “tijolo” de telha. As montras e os toldos brancos também são muito elegantes.

Entrada da Chapelaria Azevedo Rua em Lisboa.
Entrada da loja principal
Diploma da AIP de 1934.
Diploma ganho pela loja
Imagem do fundador da Entrada da Chapelaria Azevedo Rua em Lisboa, no teto da loja.
Sr. Aquino Azevedo Rua, fundador da chapelaria

Quando lá cheguei, deparei-me com uma situação caricata: a senhora que estava encarregue da loja estava a falar com um cliente que tinha bebido uma ginjinha a mais n’”A Ginjinha” (e que ainda queria beber mais umas quantas). A forma como a senhora lidou com a situação foi de mestre. Escutou durante uns minutos paciêntes e depois muito calmamente informou:

– Peço desculpa, mas tenho de ir lá dentro ao armazém…

Tive o prazer de conhecer a Srª. Dª. Margarida uns minutos depois, quando a costa ficou livre, que me atendeu graciosamente e respondeu a todas as minhas questões. Não é fácil estar a atender clientes o dia inteiro e depois deparar-se com um homem com uma câmera fotográfica, dizendo que tem um blog e que gostaria saber mais sobre a loja e aprender mais sobre os produtos, mas a experiência da minha anfitriã brilhou. 

Armários com chapéus da Chapelaria Azevedo Rua.

A terminologia de um chapéu

Começámos pelos termos dos chapéus. O chapéu é composto pela copa, a parte mais alta do chapéu, pela aba, a parte que se estende horizontalmente da copa e que protege os nossos olhos do sol, pela carneira, a fita na parte interior que toca na nossa cabeça e pela fita, a parte decorativa do chapéu que está à volta da copa.

Chapéus de senhora na montra.
Chapéus de senhora na montra

A copa não determina o nome de um chapéu em Português

Em seguida, aprendi que em Portugal, ao contrário da Inglaterra, não se costuma dar nomes diferentes aos chapéus dependendo dos estilos de copas. Enquanto que em Inglaterra podemos encontrar chapéus com nomes como “Fedora” ou “Hamburg”, em Portugal cada estilo designa-se pelo tamanho da aba e pelo material. Há excepções, como os “Panamá”. Faz sentido fazer-se desta forma, porque um chapéu de pêlo de coelho de aba larga pode ter a copa formada em dezenas de formatos de diferentes, e ao mesmo tempo chapéus de materiais e abas diferentes podem ter o mesmo formato de copa.

O que vende a chapelaria?

Em primeiro lugar, a loja vende todo o tipo de chapéus. O primeiro modelo que vi foi o “Fernando Pessoa”, o modelo usado pelo poeta, que era um cliente habitual da casa. É parecido com um fedora com uma aba rija, de pelo preto. Achei bastante bonito, mas não adoro preto, por isso gostei mais das outras cores. Depois, vimos os outros chapéus de pêlo, a maioria de coelho e os mais requintados de castor. Para cuidar destes chapéus deve-se escovar regularmente e lavar a seco numa lavandaria caso se sujem.

Chapéu preto modelo "Fernando Pessoa"
Chapéu preto do modelo “Fernando Pessoa”

A gigante colecção de Panamás

Em segundo lugar, vimos a vasta colecção de Panamás, que a Srª. Dª. Margarida garantiu que iria aumentar em breve para satisfazer a enorme procura no verão. Estes chapéus de palha (de juco de jipijapa, mais precisamente) são entrelaçados no país do Equador, e muitas vezes exportados para países Europeus e acabados cá (que consiste em formar a copa, dobrar a borda da aba, inserir a carneira e cozer a fita). Geralmente, quanto mais fina e branca a palha, mas caro é o chapéu. Este artigo explica melhor o processo de produção. Para os limpar, deve-se usar um pano com água e um bocadinho de sabonete.

Chapéus do estilo panamá.

Boné ou Boína?

Finalmente, vimos os bonés, aos quais eu chamei “boína”, que é a palavra que muita gente do Norte e do Alentejo usa, explicou-me a minha anfitriã. Vimos o estilo clássico (flat cap em Inglês) e o estilo oitavado (newsboy em Inglês), que tem este nome porque a copa divide-se em 8 secções diferentes. É importante levá-los a uma lavandaria para os lavar.

Boina de algodão branco.
Boína, ou boné, oitavado
Bonés

Outros produtos da loja

Para além disto, a Chapelaria também vende guarda-chuvas (chamados chapéus de chuva em Lisboa, o que faz todo o sentido considerando o nome da loja) e bengalas, o que é uma estratégia de génio: durante o verão há mais procura por chapéus para usar na cabeça, e durante o inverno há mais procura por chapéus de chuva. Desta forma a gestão financeira é mais eficiente e o fundo de maneio mantém-se com uma almofada confortável.

Guarda-chuvas da Chapelaria Azevedo Rua em Lisboa.
Guarda-chuvas à venda
Bengalas da Chapelaria Azevedo Rua em Lisboa.
Bengalas à venda

Como se mede a cabeça para caber num chapéu?

Tive problemas com as medidas de chapéus no passado, por isso perguntei o seguinte:

Luís — Ok, e como é que se mede o chapéu? É largura e altura da copa?

Margarida — Sim, isso aí. Se eu puser uma fita métrica à volta da cabeça, vai dar o perímetro.

Luís — Como é que o chapéu deve estar na nossa cabeça?

Margarida — Deve estar na linha da sobrancelha. Há clientes que gostam de dar um toque especial e inclinam, mas o chapéu é usado a direito, na linha da sobrancelha.

Luís — Deve estar um bocadinho apertado para não voar com o vento?

Margarida — Exactamente, tem que ficar justo, sem ficar a magoar, porque senão, com qualquer ventinho, ou fica incómodo andar sempre a segurar no chapéu.

Luís — Então dá para apertar chapéus, mas não dá para alargar chapéus?

Margarida — Dá para alargar, também temos uma forma de alargar chapéus.

Um erro comum é comprar chapéus demasiado largos, por isso a Srª. Dª. Margarida recomenda a todos os clientes que venham à loja experimentar o modelo que se quer, com a ajuda de um dos funcionários.

Chapéu a ser retirado do armário com uma ferramenta comprida especial.

Como pegar num chapéu

Um chapéu deve-se pegar sempre pelo perímetro da copa. Ocasionalmente podemos pegar pela aba (mas evitar pegar sempre pelo mesmo sítio senão a aba vai-se deformar). Nunca peguem pelo vinco da copa porque é o sítio mais provável de se partir, especialmente nos Panamá. Isto aconteceu-me pessoalmente.

Reparações e personalizações

Como parti a palha do vinco do meu Panamá no verão passado, perguntei se faziam reparações a chapéus e eles disseram que sim. Para além de reparações e de alargar ou apertar os chapéus, a Chapelaria também corta as bengalas à medida, troca a fita e substitui a carneira. Não fazem reparações de guarda-chuvas. Não me disseram quais os preços dos serviços, porque depende muito do que fôr preciso, mas os leitores podem sempre ligar.

Chapéu do Panamá com a palha rasgada no vinco da copa.
Chapéu antes de ser reparado

Contactos

  • Telefone da loja principal:+351 213 427 511
  • Telefone da loja pequena: +351 213 470 817
  • Telemóvel geral: +351 933 435 294
  • Email: azevedorua@sapo.pt
Cartão de negócio da Chapelaria Azevedo Rua em Lisboa.

Não uma, mas duas lojas

Inclusive, tive o privilégio de visitar a loja mais pequena na esquina da rua, que estava fechada e foi aberta especialmente para mim. Lá encontramos muitos chapéus iguais aos da loja maior, e também uns “baseball hats” simples e bonitos.

Entrada da segunda loja pequena da Chapelaria Azevedo Rua
Entrada da segunda loja
Janela da segunda loja da Chapelaria Azevedo Rua
Montra lateral da segunda loja
Interior da loja pequena, com armários e chapéus.
Chapéus no interior da segunda loja
Bonés
Bonés casuais na segunda loja

Chapelaria Azevedo Rua: uma referência para chapéus clássicos em Lisboa

Em conclusão, gostei imenso de visitar a Chapelaria Azevedo Rua: o espaço é lindo, os funcionários são simpáticos e sabem do que estão a falar (o que é muito raro) e há um chapéu para qualquer gosto (e qualquer orçamento). Neste momento, o website não faz jus à loja por isso recomendo irem lá em pessoa. Já sei onde ir se estiver em Lisboa e precisar de um chapéu!

Sinal com o logo dentro da loja.
Sinal antigo da loja.
Caixa de chapéu vermelha da Christy's.
Caixa de chapéu
Sinal que diz "Chapeos e Bonets" dentro da loja.
Selo da Stetson, afirmando que este é um retalhista certificado em 2025.
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